Em um mundo onde o trabalho consome grande parte de nossas vidas, a linha entre manter a sanidade mental e mergulhar em um mar de estresse e ansiedade se torna cada vez mais tênue. A frase, embora irônica, “Você não precisa ser louco para trabalhar aqui, mas ajuda”, ressoa em muitos corredores corporativos, ecoando um sentimento de resignação e aceitação de que, talvez, o trabalho e o bem-estar mental sejam mutuamente exclusivos. Mas, será que isso é uma verdade incontestável ou apenas uma narrativa que nos resignamos a aceitar?
Barry Schwartz, em seu livro “Why We Work“, propõe um olhar introspectivo sobre a relação entre trabalho e satisfação, sugerindo que a atitude que levamos para nossas ocupações define em grande parte nossa experiência laboral. Este argumento nos convida a refletir: o problema reside no trabalho em si ou na maneira como nos posicionamos diante dele?
É muito importante observar que a jornada rumo à restauração da sanidade no ambiente de trabalho necessita, na maioria das vezes, de mudanças externas. Com ambientes de trabalho menos tóxicos, mais empáticos e onde um profissional possa se sentir bem emocionalmente para realizar suas tarefas e planejar sua carreira. Isso inclui remuneração justa, equidade, políticas sociais dos governos e, claro, uma visão mais realista do que é ser produtivo.
Mesmo assim, é possível fazer um mergulho profundo em nossas próprias expectativas e atitudes. A questão não é tanto sobre a natureza do trabalho, mas sobre nossa resposta a ele. Muitos de nós encontramos prazer nas tarefas profissionais, mas nos vemos atormentados por fatores como a falta de recursos, políticas obsoletas, e dinâmicas interpessoais desafiadoras.
Através da autorreflexão, é possível reconhecer que, muitas vezes, somos nós que mudamos, e não necessariamente o trabalho. Ao adotar essa percepção, podemos começar a questionar quais atitudes contribuem para nossa insatisfação. A lista pode incluir desde atribuir a outros a responsabilidade por nossos erros até esperar um tratamento diferenciado sem oferecer o mesmo em troca.
Introduzindo o conceito do trabalhador interior, aquela parte de nós que busca expressão e significado através do trabalho, somos convidados a considerar nossas expectativas infantis e a necessidade de permitir que essa criança interior cresça. Transformar o trabalhador interior implica em assumir a responsabilidade por nossos pensamentos, sentimentos e ações, buscar humor em vez de falhas, e realizar autoavaliações regulares para não sermos consumidos por reclamações e lamentações.
Curar o trabalhador interior e, por extensão, restaurar a sanidade no trabalho, envolve reconhecer que a sensação de estar enlouquecendo é, na verdade, um sinal de uma mente saudável lutando por equilíbrio. A sanidade, nesse contexto, é definida pela capacidade de fazer apenas o necessário, guiada pela situação e pela nossa habilidade de avaliá-la adequadamente, sem desperdiçar energia combatendo inimigos internos.
Referências: