A velhice se apresenta como um tempo em que memórias e emoções se entrelaçam intensamente, onde a busca por sentido e pertencimento ganha novos contornos. Poderia ser um tempo, e o é para tantos, de cuidado de si e busca de autoconhecimento. A maturidade não é somente o acúmulo de vivências, é preciso discernir e refletir, para não viver ao sabor das marés, tornando o cotidiano uma sequência de acontecimentos. É positivo ser o timoneiro nas tomadas de decisões, nos afazeres, afinal, as escolhas vão traçando as linhas de vida.
A visão sobre o envelhecimento não é um padrão social, simplesmente. Por vezes, e não são poucas, pessoas idosas aceitam o lugar designado pela sociedade em que vivem e até pela família.
Por exemplo, ao invés de ser uma conquista levar a vida de maneira mais lenta, isso é socialmente um demérito. Como se fosse saudável fazer coisas sem parar, cada vez mais, sacrificando a saúde, como o sono e a alimentação. Não ter tempo de sentir-se e de refletir sobre o cotidiano, rever o passado e projetar desejos para o futuro é um dos dramas da atualidade, nessa fuga de si mesmo. Encontrar tempo para si é uma conquista, que os mais velhos podem cultivar.
Envelhecer não é sinônimo de adoecer. Só ficam velhos aqueles que não morrem precocemente. Se no lugar comum dizem que é lindo viver muito, por outro, os serviços muitas vezes tratam os mais velhos como aqueles em quem não vale a pena investir. Isto é etarismo, uma visão negativa sobre as pessoas idosas, com preconceito e desvalorização. Pense quantas vezes se sentiu menos importante por conta de discriminação por ter mais idade.
Outros povos, pelo contrário, consideram os mais velhos os mais sábios. Mas a sabedoria não cai no colo, é cultivada no caminho da vida. Assim, alguns continuam curiosos e com vontade de conhecer mais coisas e fazeres e artes… enquanto outros se resignam ao contexto discriminatório, de que envelhecimento é adoecer, tornar-se um fardo aos mais jovens.
A psicoterapia é um recurso nas fases de transição, como mudança de carreira e aposentadoria. É uma possibilidade de reescrever as próprias narrativas, ressignificando o que se viveu e o tanto que ainda vai viver. Porque recordar, no fim, é uma forma de manter a integridade do ser, de conservar a chama daquilo que nos torna únicos.
Leia também: Envelhecer pode ser em um longo período de vida.