A reflexão é alguma coisa deixada de lado na correria, de tal modo, que é considerada normal. Falo do dia a dia acelerado. Por todos os lados, a normalidade ensina que todo o tempo deve ser preenchido com atividades.
Eu quero o meu tempo!
Viver sem tempo é a tônica e quando uma pessoa o tem, muitas vezes não aproveita para ficar em silêncio. O silêncio parece que angustia. Assim, foge-se do silêncio e seu lugar de sabedoria e descanso. O silêncio abre um vazio no peito quando mostra o desconhecido eu mesmo.
Não se permitir ficar em silêncio é uma característica da contemporaneidade urbana. Vive-se entre o barulho e a imagem. É um mal do não descanso, da falta de intimidade consigo mesma, consigo mesmo. Não se reconhecer um ser único nem sentir pertencimento ao cotidiano é o caminho para ser engolfado em meias verdades, responsabilidades e tarefas desconectadas do prazer e do sentido da vida.
Uma monja zen (2018) escreve sobre o seu encontro com o silêncio. Fala de sua experiência e destaca a necessidade de reaprender os sentidos, os aromas, os paladares, o ouvir, o toque, a sensação e a percepção. Claro, há centenas de anos o zen experimenta o silêncio. Mas fiquemos no aqui e agora.
O silêncio pode nos ajudar no encontro com o eu, com o self, e assim o espaço reflexivo se abre nessa experiência de conhecer as subjetividades que me movem e me orientam em escolhas de meu estar no mundo.
Pode ser um rodopio, uma reviravolta, pode ser lento e moroso, enfim, não há um modelo de autoconhecimento. Vivemos em um tempo em que ao olhar aqui e ali há algo para nos dizer como viver o cotidiano, sem dar tempo de respiração e reflexão. Seria engraçado se não fosse trágico, que o ser humano ensina as máquinas para dominá-lo. Vivemos uma condição de esgotamento, entre os motivos certamente estão a demasiada informação e o cotidiano repleto de tarefas, sem espaço para discernimento.
A clínica psi é um espaço de abertura à reflexão. Alguns pensam que a clínica psicológica é somente um espaço de saúde, para quem sofre de sintomas catalogados no DSM e na CID. A clínica psi é um espaço em que o sujeito da clínica no mínimo quer se conhecer melhor. A terapia pela palavra é a escuta do psicológico, daquilo que transpassa o ser, daquilo que o sujeito muitas vezes desconhece em si mesmo.
Referências
TANNIER, Kankyo, A magia do silêncio, Rio de Janeiro: Sextante, 2018.