Vou compartilhar uma história de mulher. Recentemente, tive uma conversa com uma motorista que me contou que recebe menos chamadas de trabalho porque limita o tempo que está disponível no sistema. O motivo por trás dessa decisão é o cuidado com o seu filho, uma necessidade vital que, ironicamente, gera desconforto devido à situação criada pela empresa. Essa situação ressalta a desigualdade de gênero, onde as mulheres frequentemente enfrentam obstáculos e têm menos oportunidades do que muitos homens. A motorista do Uber Elas observou: “Um homem, ao contrário, sai de casa de manhã e volta à noite.” Isto é questão de gênero.
Uma pesquisa recente realizada pelo Datafolha revela que “Mulheres e jovens têm mais ansiedade que a média da população”. Esse dado estatístico confirma o que observamos no cotidiano. As mulheres enfrentam uma carga mais intensa de responsabilidades e obrigações, frequentemente agravada por desvantagens financeiras, como no exemplo que mencionei anteriormente. Consequentemente, é mais comum que as mulheres desenvolvam transtornos de ansiedade em comparação com os homens. Acredito que isso é mais influenciado por fatores sociais de gênero do que por fatores biológicos.
Adotando uma perspectiva biopsicossocial, fica evidente a persistência de tentativas de manter as mulheres em posições de menor poder e importância. Infelizmente, elas são frequentemente submetidas a discriminação e vulnerabilidades, tornando-as mais suscetíveis a tais problemas.
A ansiedade pode afetar a vida das mulheres de diversas maneiras. As diferentes fases da vida das mulheres, como a adolescência, a escolha por viver ou não a maternidade, e a ascensão profissional, podem afetar a saúde mental e aumentar os níveis de ansiedade. Mudanças hormonais, pressões sociais e desafios específicos de cada fase podem contribuir para o desenvolvimento ou agravamento da ansiedade.
A ansiedade pode afetar também as relações pessoais e profissionais das mulheres. Ela pode interferir na capacidade de se relacionar, causar dificuldades de comunicação e gerar insegurança em situações sociais, afinal vivemos em uma sociedade em que muitos homens acreditam que podem dispor do corpo feminino de diferentes formas.
Portanto, acredito que a função de uma psicóloga vai além de ser detentora de teorias e técnicas. Na minha visão, uma terapeuta precisa compreender profundamente o contexto espaço-temporal do ambiente terapêutico para entender verdadeiramente como o indivíduo que busca ajuda está vivendo.
A pesquisa do Datafolha confirma o que nós, profissionais da área, encontramos frequentemente em nossa prática clínica: o ambiente em que uma pessoa vive exerce uma influência significativa em seu sofrimento psicológico. Além disso, o ambiente pode até mesmo ser determinante para o surgimento de problemas de saúde mental.