Desenvolvimento pessoal tem ligação direta com performance profissional. O ponto principal de contato ocorre por meio da regulação externa, utilizando modelos, parâmetros, propósitos, preconceitos e estereótipos, por exemplo.
Cada profissão possui um modo de atuação, habilidades e competências específicas. No entanto, na prática do trabalho nas empresas, uma pedagogia é estabelecida, geralmente exigindo uma determinada performance do trabalhador, juntamente com um jargão que define uma forma de comunicação para a prática laboral.
Entretanto, na minha opinião, grande parte dos cursos técnicos e de nível superior enfoca teorias e práticas técnicas, não proporcionando a formação de habilidades relacionais. Esse problema começa na educação escolar, onde apenas algumas poucas escolas ao redor do mundo desenvolvem espaços de afetividade e promovem a educação emocional por meio de dinâmicas pedagógicas. Isso permite que as crianças ouçam o outro e também expressem seus próprios sentimentos e percepções.
Eu gosto de fazer uma digressão, mas considero importante entender o todo e não apenas partes, técnicas e ferramentas para construir a carreira. Apreender é bem diferente de apenas aprender.
A vivência de psicoterapia, ao longo do tempo, nos faz apreender mais sobre como nos sentimos em determinadas situações, impulsionando-nos a promover mudanças em nosso comportamento. O processo terapêutico ocorre internamente, é uma assimilação, um aprofundamento na compreensão de nós mesmos.
A performance profissional, por seu lado, é um aprendizado. Aprender é adquirir conhecimento por meio do acesso a um corpo teórico e/ou prático. É o desenvolvimento de habilidades e competências.
Não sei se expliquei de forma simples o suficiente, mas é possível considerar as duas formas, apreender e aprender, como diferentes. Na primeira, destaco a assimilação subjetiva, enquanto na segunda, a pessoa incorpora conhecimento por meio de memorização e repetição.
Assim, entendo que o desenvolvimento pessoal para se adequar a uma performance profissional é um treinamento mecânico de modulação comportamental.
O desenvolvimento pessoal tem a ver com o ambiente de trabalho. A pessoa se convence de que deve construir um modus operandi adequado aos objetivos definidos pela empresa. Ou seja, o trabalhador deve se adaptar ao produto definido pela corporação para atuar em determinada função. O cuidado a se tomar, é de não abrir mão de coisas importantes para si.
Acredito que a performance é uma maneira de se tornar parte do sistema, a chamada “cultura da empresa”.
Não consigo me convencer de que o mundo do trabalho evoluiu ou algo semelhante. É importante lembrar que não existe apenas um mundo, as realidades são diversas, variando de acordo com as áreas, setores e valorização do trabalhador (incluindo aspectos como cor da pele, gênero e escolaridade, entre outras desigualdades).
Em geral, na clínica, atendo pessoas da classe média que trabalham sentadas em frente a um computador, exercendo funções, profissões e trabalhando em empresas diferentes. Portanto, posso falar um pouco sobre como observo esse mundo do trabalho chamado corporativo.
Existe uma produção de conhecimento baseada em pesquisas sobre o comportamento humano, que funciona como um objetivo a ser alcançado. De certa forma, é uma padronização de comportamento. Nesse sentido, pessoas em cargos altos ou em destaque nas empresas realizam palestras e workshops, escrevem livros e citam trabalhos científicos, ensaiando suas verdades sobre o conhecimento e o comportamento adequado para avançar em suas carreiras e obter salários mais altos.
No entanto, esse modo de ser construído de maneira heterorregulada pelas verdades corporativas gera subjetividades que envolvem o funcionário. Não é simples, senão impossível, não ser influenciado pelo ambiente de trabalho. Isso pode envolver desde a incorporação do que a empresa chama de “cultura da empresa” até a tentativa de se preservar, mantendo a crítica ao mesmo tempo em que se cumpre o papel designado ao cargo.
Em conclusão, nessa roda de verdades e comportamentos assertivos, a psicoterapia pode contribuir para que o trabalhador se conheça melhor, possa fazer escolhas e buscar suas ambições.