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Déficit de atenção: como vai o trabalho?

Atualmente, é mais comum adultos serem diagnosticados com déficit de atenção. A meu ver, há interligação entre alguns desencadeadores, quais sejam: estresse, excesso de informação, altas exigências do trabalho e/ou estudo todos os dias e exacerbação das preocupações. Certamente, em meio urbano, o estresse é contínuo, especialmente em cidades médias e grandes. 

Vou, de maneira breve e geral, chamar a reflexão sobre os modos como a dificuldade de foco e de atenção no trabalho podem se desenvolver em algumas pessoas. Temos de levar em conta, que algumas áreas de trabalho são mais “adoecedoras”. Ainda, a competição, o estilo de vida, junto a exigências e controle normalizados na cultura urbana, forma um, certamente incompleto, resumo do que se passa no cotidiano das pessoas e dos ambientes de trabalho em muitas cidades.

A minha observação advém da clínica, ou seja, são dados empíricos, mas não menos importantes que os dados epidemiológicos. Cumprem funções diferentes no campo da ciência, não se calculam médias populacionais, outrossim, é possível realizar análises e investigações qualitativas. Importam aqui, as subjetividades implicadas no fato e não a quantidade de vezes em que um evento ocorre. 

Por exemplo, se o trabalhador sofre uma frustração e depois outra e mais outra no trabalho, sente como desqualificação do esforço empreendido, algo assim. Muitas vezes, a pessoa que sofre não se apercebe, não tem clara consciência do poder que precisa suportar para fazer uma carreira, para ganhar o salário. O desgaste é biopsicossocial e não se dá de maneira única e de uma vez. É humano tentar se adaptar, seja por meio de um artifício, na tentativa de minimizar o sofrimento, outras vezes, aos poucos a pessoa começa a exigir menos de si para suportar a situação. 

Digamos assim, se não prestar atenção vai sofrer menos. Pode até ser útil por um pequeno período, mas pode se tornar um comportamento quase contínuo. Na tentativa de se adaptar a uma situação difícil, a desatenção parece, ao ser que sofre, um modo de proteção, que aos poucos sai do controle do indivíduo e torna-se o chamado déficit de atenção.

A pessoa sobrecarregada de funções e desvalorizada em seus êxitos tende a alterar seu comportamento, apresentar cada vez mais falhas, ao invés de ampliar o entendimento e a capacidade técnica e de raciocínio. Não é à toa que existe a classificação de uma doença advinda do trabalho, a síndrome de burnout, uma combustão emocional.

A empresa, ao treinar os funcionários para suportarem ser tratados como engrenagem mecânica (mesmo que travestida, muitas vezes, em rede de relações humanas), mostra que a pessoa é descartável, ou seja, se parar de funcionar bem é só trocar por outra. Enfim, não somos um relógio e se a engrenagem não precisa se preocupar com o todo, uma pessoa ao desligar do sentido daquilo que faz, sofre emocionalmente. Assim, fazer sem pensar e pior, sem sentir, somente porque assim deve ser feito, é uma construção de desatenção, de desinteresse.

Aos poucos, essa pessoa vai se sentir pior, acumular sintomas e talvez receba um diagnóstico de TDAH ou até de depressão. Esta condição leva a pessoa a conviver com o rótulo de portador de transtorno mental, em geral junto aos medicamentos que alteram o comportamento. A parte, o sintoma, foi tomado pelo todo.

É preciso modificar a dinâmica nas relações de trabalho. E as empresas, muitas delas, vem transformando o modus operandi. Mas passa muita água debaixo da ponte, e o sofrimento no trabalho se apresenta por comportamentos. Expressamos o emocional por meio da desatenção, no caso chamado déficit de atenção.

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