No meu trabalho, o foco são as pessoas, não apenas os sintomas. Ao ler meu perfil, muitos comentam esta frase. É de se esperar, pois ao procurar uma psicóloga, uma das coisas que mais desejamos é acolhimento, o que não é o mais comum no cotidiano. Poderia me perguntar o que acolhimento tem a ver com o foco não serem os sintomas. A área de saúde ainda é mais focada nas doenças do que na pessoa. Portanto, as técnicas e tratamentos são mais focados em diagnóstico e eliminação de sintomas do que no sistema e suas redes bem como no contexto sociocultural, político-econômico ou algo por aí (Lima, 2015).
A partir desse olhar, enxergo a procrastinação como um dizer não. Não a algo que está além do que dá para fazer, por exemplo. Aprender a dizer não vem a ser um dos objetivos de muitos que procuram psicoterapia.
Outro modo possível de olhar para a procrastinação, p. ex.: aprendemos a esconder o que sentimos ao invés de dizer o que pensamos e queremos. Quantas vezes dizemos sim e gostaríamos de ter dito não! Daí, para aceitar algo que não quer fazer é um passo. E a reação pode ser procrastinar.
A brincadeira de que a vida é pagar boleto, faz sentido no meio urbano, pois tem muita coisa para fazer e tudo é difícil para ter um mínimo de condições de organização cotidiana. E o início do estresse pode se mostrar por não organizar os pagamentos e as finanças. Aqui, a consequência pode ser multa ou dívida. É uma auto-sabotagem ou uma birra infantil, sem medir consequências? Ou outra coisa, ainda.
Vemos que, seja de um modo ou de outro, procrastinar é sinal de alerta.
A procrastinação quando sintoma de auto-sabotagem, exige uma imersão complexa e profunda no contexto da própria vida. Como psicóloga, claro, falo da psicoterapia como um caminho de percepção de si e autoconhecimento; assim, há de se encontrar forças para promover mudanças no cotidiano. Não adianta sabotar o que não faz sentido fazer e não mudar algo que o mantém preso ao modo de vida atual. Se faz mal, precisa refletir sobre isso. O sintoma, neste exemplo, é um aviso que é preciso desacelerar e mudar. A busca de si mesmo e do estar no mundo pode se concretizar por meio da psicoterapia.
A clínica psicológica representa um ambiente destinado à exploração individual, um processo de autoconhecimento que visa tanto a aceitação pessoal quanto a promoção de transformações. Daí a importância de contar com a psicoterapia para encontrar esses fundos emocionais que podem estar levando ao hábito indesejado.