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A psicoterapia como caminho para a transformação pessoal

Por vezes, penso em como é difícil procurar uma psicoterapia. Buscar o trabalho profissional na clínica psicológica é dar um passo na direção de se abrir para poder modificar o sofrimento e as dificuldades no cotidiano. Vejo como uma atitude em busca de mudanças para o seu próprio bem-estar.

Um profissional competente não deve ser somente um técnico, com uma caixa de ferramentas com a qual pretenda consertar um corpo paciente. Na realidade, apresenta-se diante do clínico uma pessoa, um ser em sofrimento, o qual se expressa em seu estar no mundo. O sujeito da clínica muitas vezes traz uma fratura na sua comunicação, no compartilhamento e troca com outros seres humanos.

O caminho de vida de uma pessoa, não é simplesmente um reflexo de um teórico mundo intrapsíquico. O sujeito se constrói, inicialmente, na relação mãe-bebê (ambiente de maternagem, os que cuidam do bebê), em um tempo-espaço de descoberta, pelo bebê, do eu e do outro. Mais adiante, o entorno social, como família extensa, vizinhança e escola, vai proporcionar algumas escolhas e também retraimentos e desistências na troca com o meio. A comunicação se desenvolve em um complexo de mão dupla, de troca, sejam elas positivas ou dolorosas.

“O que acontece no sujeito foi criado dentro das relações, e não se pode compreender seu funcionamento psíquico negligenciando tais relações” (Roussilon, 2023). Assim, a pessoa da clínica vive uma dinâmica relacional, que deu seus primeiros passos quando era bebê. Muitos modos de agir, de sentir estão ligados a sensações inconscientes e distantes da vida adulta.

 A formação de um sujeito é intrínseca à normalidade de seu meio, na família ou seu substituto e na sociedade em que está inserido. Assim, não somos, como humanos, somente consciência ou somente depositário dos males que nos acometem. 

Não existe um determinismo que define quem a pessoa é a priori, como não há uma verdade única que não permita mudanças ao longo da vida. Existem, sim, pessoas, suas vivências, a história das sociedades, por um lado, e por outro, há modelos de normalidade, que por vezes impedem as pessoas no desenvolvimento de seu potencial e singularidade. Essa normalidade social pode ser contestada por coletivos e pelo indivíduo. É possível mudar seus próprios padrões de norma, pois cada pessoa é única e se construiu inicialmente na relação com a mãe ou quem quer que fez o papel de maternagem. 

ROUSSILON, René. O narcisismo e a análise do eu. São Paulo: Blucher, 2023.