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Saúde Mental e Estigma: Combatendo Preconceitos na Sociedade e no Trabalho

Uma pessoa foi diagnosticada com síndrome de burnout e afastada do trabalho por seis meses, por dois médicos, o psiquiatra e o perito do INSS. Sem qualquer respeito pela competência teórico-técnica dos médicos, os colegas mudam o perfil da ou do colega. Parece cruel, mas isso acontece, além de passar por um sofrimento e sintomas que formam uma síndrome, ao retornar vai encontrar outro ambiente de trabalho. Muitas vezes, portanto, as pessoas resistem ao diagnóstico e/ou quando por fim são afastadas do trabalho, não desejam retornar.

Esta é uma construção de estigma: os diagnósticos na área dos transtornos mentais são encarados por grupos nos ambientes de trabalho como fraqueza, mentira, preguiça, em uma lista de adjetivos desqualificadores da personalidade da pessoa diagnosticada com síndrome de burnout

A palavra “estigma” surge repetidamente nas conversas sobre adoecimentos mentais. Vamos começar com o dicionário. O que é esse “estigma”, afinal? 

Estigma é um termo que pode ter diferentes significados, dependendo do contexto em que é utilizado. Em sua raiz, a palavra significa um sinal ou uma marca. No entanto, na sociologia, o conceito de estigma está relacionado com a identidade social dos sujeitos e dos grupos sociais. Na década de 1950, o sociólogo Erving Goffman trouxe a palavra para o vocabulário das ciências sociais. Ele a usou para significar a assunção ou a imposição de uma identidade que marca seu portador como sendo diferente das outras pessoas. A construção de estigma do louco, como aquele que deve ser excluído do convívio social, é marcante no nascimento das instituições manicomiais, conforme O nascimento da loucura, de Michel Foucault, em 1961. A normalização de comportamentos na construção das convenções sociais é determinante na conceituação de normal e patológico na construção da doença mental. As pessoas com qualquer sofrimento, que possa ser classificado pelo DSM 5 como transtorno mental, se sentem mal e culpadas o suficiente, não só pelo adoecimento, mas também pelo comportamento de seu entorno e da sociedade em geral.

Sem generalizar, é comum que empresas e muitos grupos, mantenham o discurso de exclusão. O estigma sobre a doença mental tem a ver com uma sociedade normalizada pela exclusão do diferente, que se mantém pela negação do conhecimento. Pesquisas há muito mostram que a estigmatização, a discriminação e os estereótipos negativos sobre doenças mentais são, de longe, as principais razões pelas quais as pessoas que mais precisam de ajuda não são tratadas.

Esse é um exemplo de falta de empatia e desejo de prejudicar o próximo. 

Como se constrói uma verdade irracional? Quando o diagnóstico de um médico especialista validado por um perito federal não valida o afastamento da pessoa. O contrário acontece, o grupo (ou algumas pessoas) constrói um sujeito manipulador, que engana médicos e colegas, para ficar de folga recebendo o salário. Por mais repulsivo que pareça, isso acontece e com frequência. A pessoa foi desqualificada em sua essência, em sua ética. Desacreditada, não terá mais espaço para retorno. O sistema empurra a pessoa que sofre para a cronicidade no campo dos transtornos mentais.

Ao ser afastada, passa a receber benefício do INSS ou outro instituto se for servidor público, mas na maior parte das vezes tem redução financeira. Além disso, a pessoa que está afastada do trabalho por alguma patologia, sofre do próprio agravo e esforços para conseguir tratamento e realizá-lo, como também na maior parte das vezes, sente-se em dívida com o Estado, com a empresa, sente-se culpada pela própria condição. Poucos conseguem desenvolver a consciência de que na verdade são vítimas de uma situação, pois é em seu corpo que a doença/acidente se expressa.

Há cobrança social de que aquela pessoa que foi afastada do trabalho e recebe benefício de Estado é fraca, indolente, incapaz, preguiçosa e até mentirosa. Há uma inversão da situação, que se desenvolveu pelo esforço, falta de treinamento adequado, acidente de trabalho, ou mesmo um conjunto psicossocial diante da pressão do mundo do trabalho, que em grande parte das empresas exige do corpo do subjugado trabalhador mais esforço e dedicação que a saúde pode entregar. E este “corpo dócil” esgarça e/ou se arrebenta, seja física ou mentalmente, na verdade sempre os dois, pois a divisão é arbitrária, somos inteiros um corpo, um sistema biopsicossocial.

Todos somos passíveis de sermos tocados por doenças mentais. Agora, mais do que nunca, é importante reduzir o estigma e encorajar as pessoas a não sofrer em silêncio, mas a procurar ajuda. Educação e conscientização, compartilhamento de experiências, respeito e inclusão, reformas na legislação e das políticas públicas e combate ao preconceito são estratégias que podem ser adotadas em diferentes contextos, como no local de trabalho, na escola, na comunidade e na sociedade em geral. Devemos lembrar que a superação do estigma é um processo contínuo e que requer ações individuais e coletivas.

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